domingo, 18 de novembro de 2007

William Morris em livro digital

William Morris (1834-1896) foi um dos fundadores do movimento Arts & Crafts (Artes e Ofícios), que defendia o artesanato como alternativa à mecanização e à produção em massa. Escreveu poemas e livros de temática medieval (dizem que influenciou a série Narnia de C. S. Lewis, e o escritor J. R. R. Tolkien da trilogia O Senhor dos Anéis). "Fundou uma editora, a Kelmscott Press em Londres, onde desenvolveu desenvolveu tipos claros de letras e bordas decorativas com motivo medieval para livros. A seleção de papel e tinta e sua preocupação com a integração completa entre tipo e decorações fez da Kelmscott Press a mais famosa das gráficas particulares do Movimento das Artes e Ofícios." (ver matéria completa).

Ok, depois dessa explicação toda, eu posso dizer o motivo dessa postagem: estive folheando um livro de William Morris. Só que não era um livro-livro, era um livro-digital. Não, não era um ebook em pdf, era outra coisa. Olhem no link:

http://morrisedition.lib.uiowa.edu/images/loveisenough/pageflip.html

Nas aulas de prática projetual, o prof. Pedro Paulo (prof. Delpino) costumava comentar sobre a dificuldade de se ler um livro no computador. A questão, não é ler uma mensagem qualquer na tela - porque mesmo no computador é impossível ler apenas uma mensagem (leiam Marshal McLuhan!) - mas ler um livro: ler como se lê um livro. Sendo que o computador, um meio digital, é muito diferente de um meio gráfico como o livro.

Como se lê um livro? 1) segurando um objeto com formato de paralelepípedo, feito de folhas finas (miolo) e folhas grossas (capa); 2) segurá-lo próximo da luz (a tela de computador emana luz, mas um livro apenas reflete luz); 3) seguindo uma ordem da esquerda para a direita e virando as páginas. Óbvio não é? Por isso não se pode falar de design de livros sem pensar nessa seqüência de ações e situações específicas; nessa mobilização do corpo (que segura, que assume uma postura, que entra em um continuum). É o que eu chamaria de livro-objeto-leitura. Bem, o que eu quero dizer com isso?

A tecnologia do PAGEFLIP - animação que simula um livro e seu 'virar de páginas' - não é novidade (a Vivian conhece revistas de moda on-line que usam muito bem essa tecnologia). Mas há uma certa ironia em folhear digitalmente um livro de William Morris. Ele defendia o trabalho artesanal ao invés do trabalho da máquina... E no computador, o trocar de páginas fica mecânica, cansativa, não consegui passar da página 28 (imagina para quem tem L.E.R.). Por outro lado, é o único jeito de ter acesso a esse livro (de ver como ele fez, ao invés de só ouvir falar) e a iniciativa de publicar digitalmente os livros, em uma tecnologia que atualmente é a melhor possível é bacana.

Enfim, eu gostaria de ter uma editora como a do Morris, fazer livros, com cheiro de livro, com folhas porosas e boa tipografia, mas, enquanto isso, fico com os olhos grudados na tela... Ou, então, me proponho a estudar sobre o objeto-livro, sobre como a tecnologia da comunicação tem tudo haver com design gráfico... não sei...
danpiantino

Um comentário:

Anita disse...

Faltaram palavras!
Muito bom!

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