segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Fazer melhor


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Trabalhar na área da comunicação, mais especificamente na etapa de edição/tradução dos elementos textuais e visuais em manchas gráficas, pede do profissional - chamado designer ou arte-finalista - que transforme uma informação textual em mais do que um momento de leitura de um código específico; pede por um trabalho que transforme uma informação textual em um momento de leitura de sensações, outras palavras, e por aí segue.

Nesta rotina de "buscar fazer de um elemento simples, mais do que ele é", ou seja, fazer de uma frase-código textual, um momento de leitura que expresse "cuidado", "atualidade", "complexidade" o profissional gráfico apreende a "buscar fazer melhor ainda". E, ao incorporar esse hábito, o profissional gráfico acaba por trabalhar um bom período de tempo em um mesmo elemento, adequado-o, modificando-o, traduzindo suas partes em elementos de outra natureza - visual, lingüística, sonora, cinemática.

O profissional, encarado nessa habilidade de propor e encontrar soluções para "um elemento simples em um mundo que pede que seja mais que um simples elemento", encontra-se, constantemente, constrangido a tomar uma decisão: "ou continuo a procurar o melhor, ou termino esta demanda dentro do prazo!".

Neste conflito entre a idealização de um melhor ainda - "mais melhor" para usar um neologismo adequado ao absurdo da idealização das formas -; nesta cisão entre a possibilidade de "fazer melhor ainda" ou "terminar com a medida justa do que pôde ser feito", o profissional gráfico repete um momento de escolha que acompanha a história do trabalho: Dos tipógrafos da Alemanha do século XVI, aos gravuristas de cordel do nordeste brasileiro em pleno século XX, é comum buscar o melhor encaixe para atingir algo que nenhuma máquina é capaz de inferir mas que o olho do trabalhador é capaz de considerar o "melhor possível" para o olho do leitor.

Porém, neste início do século XXI, as possibilidades de transformação dos elementos textuais em visuais, e vice-versa, agora traduzidos para uma mesma realidade digital, torna esse momento de decisão um desafio: "se posso sempre fazer melhor, por que parar de transformar os elementos?".

"Porque é preciso sair da frente do computador", um médico do trabalho diria. "Porque é preciso satisfazer seu ego com a realidade de que existem outras coisas para serem feitas", diria um terapeuta. "Porque esse momento de chegada já deveria ter sido estabelecido desde o começo do trabalho", diria um bom diretor de arte.

Aqui fica estabelecida a diferença entre "fazer melhor ainda" ou "fazer o melhor possível" dentro das medidas do corpo frente à máquina; do profissional frente aos prazos de produção".

(oberdan piantino - estreiando as postagens de 2011, após anos de ausência no Despirográfico)

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