domingo, 17 de fevereiro de 2008

tropa de ouro - brasil de paralelos

Joerg Carstensen /Efe

Apesar de não ter assistido o filme Tropa de Elite, de José Padilha, eu tenho acompanhado discussões sobre ele à um certo tempo. Resumindo, segundo o portal de notícias G1, "apesar de ter sido chamado de 'fascista' e de glorificar a tortura por parte de críticos e de entidades como o grupo Tortura Nunca Mais, Tropa de Elite conquistou o seu prêmio em Berlim muito por conta do presidente do júri, Costa Gavras, um cineasta conhecido por abordar temáticas políticas e engajadas, como Missing - Desaparecido, sobre vítimas da ditadura de Augusto Pinochet no Chile". Em entrevista a televisão, ontem, o ator Wagner Moura disse que foram incompreendidos e muito criticados, com isso, deu a entender que a conquista do Urso de Ouro é uma resposta à essas críticas.

É possível que, com o aval do Urso de Ouro do Festival de Berlim, o filme tenha uma carreira internacional consistente e rara para filmes brasileiros. Porém, o que sempre me chamou a atenção, foi o sucesso do filme no mercado pirata - e, digamos de passagem, GRANDE e CONSISTENTE mercado pirata brasileiro. Segundo informações do mesmo portal: "Estima-se que mais de 10 milhões de pessoas tenham assistido à versão não-oficial da produção. Nos cinemas, a produção já ultrapassou os 2 milhões de espectadores".

É baseado nisso que eu digo que o brasil é feito de paralelos: mercados paralelos, poderes paralelos... Discordo, mesmo sem ter visto o filme, que o enredo é um retrato da situação do brasil, ou mesmo do Rio Janeiro, como comentou um leitor da Folha on-line. Discordo porque, não é possível retratar uma realidade cheia de paralelos com enredo e personagens estáticos (o tal CINEMÃO). Porém, e por outro lado, é a própria inserção esquizofrênica do filme (mídia) em estratos sociais divergentes e seus desdobramentos simbólicos (bandeira para as milícias, assim intuo) e desdobramentos humorísticos (Bofe-de-Elite, sucesso no programa Show do Tom) que retrata, como um quadro cubista, esse brasil de paralelos.

ps.: quanta opinião pra alguém que não assistiu o filme... pois é, mas tudo indica que Tropa de Elite segue a lógica da indústria cultural, o que torna certas configurações (de enredo, de relação com o público) bem previsíveis. E o foco que eu quis trazer foi o da inserção do filme na sociedade e não exatamente de sua pretensão de retratar a realidade...

danpiantino

3 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com suas palavras,Dan!
Acredito que esta dita "realidade" sempre serve para mascarar toda o submundo da industria cultural que se alimenta de certas polêmicas para se beneficiar. Para mim a partir do momento em que,Tropa de Elite teve seu direitos comprados pela Miramax,toda a questão e "objetivo de produção independência" do filme segundo o diretor, perde o sentido.
Fui ver Sangue Negro na última sexta-feira e existe uma abismo muito grande entre o ganhador e o filme de Paul Thomas Andreson,
um belissímo filme contando com atuação de impressionante Daniel Day Lewis e fotografia e trilha impecáveis,que auxiliam a contrução de uma narrativa densa. Sangue Negro também nos leva a pensar a respeito da sociedade,sobretudo o nascimento da sociedade americana, contudo de uma forma sagaz e inteligente.
Sem dúvida dá um baile na nossa Elite.

Dan Oberdan Piantino disse...

Falou bem Ana! É preciso ler como o filme se insere e se desdobra pra entender melhor o que pretende, ou com o que se compromete. Ter os direitos comprados por tal ou qual distribuidora, ser financiado por tal ou qual produtora... isso pesa bastante. A indústria cultural se beneficia da venda de "realidades" massificadas e de fácil assimilação. Basta ver os materiais gráficos, as matérias e os comentários por aí pra ter um pé atrás com relação ao Tropa. A própria repetição e imitação das cenas de tortura fetichista ("pede pra sair!") é a reação mais sincera do público e que mostra bem o canal de ligação que o diretor buscou estabelecer. A bola da vez, por parte dos responsáveis pelo filme, é dizer que os gringos (no caso os russos) deram uma assinatura de qualidade (reconhecimento) ao filme...
Quero ver Sangue Negro, boa indicação!
danpiantino

Anita disse...

Isso mesmo,Dan! Vá ver e discuremos logo mais.Preste a atenção na Trilha e na fotografia que impressionante.
Também veja: Onde os fracos não te vez, dos irmãos Cohen, você vai gostar muito.

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